domingo, 17 de agosto de 2008

Separação

SEPARAÇÃO


Finda em min’alma um tempo de sonhos,

Retratos pintados em aquarelas, em óleos, ou nanquins.

Lágrimas paradas em rostos tristonhos,

Ou alvos sorrisos em momentos risonhos.


Findam-me a fantasia, a poesia e a alegria...

Resta-me a sobriedade da cruel realidade.

Restam-me apenas as coisas palpáveis.

O tato que me impele à terra firme.


Abandono a nau com a qual singrei os ares,

Em um tempo em que minha mente voava aos pares,

Como andorinhas ao seguir as quentes estações,

Voo ao incauto abandono das emoções.


Separo o corpo da alma,

Entrego às nuvens nómades minha calma.

E refaço a vida sem sentido,

Sem sonhos, sem pinturas.

Sem que haja da criança o sorriso.

Apenas com a máscara fria dos adultos...


ARAMIS – 03/01/08.

Soneto de Amor



Soneto de Amor
Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,
desde então sou porque tu é,
e desde então é, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.


Neruda..